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2014 - Marina


MARINA

Quem me conhece minimamente sabe que tenho uma ligação ao candomblé e que sou comprometido com a luta das minorias no Brasil.  Talvez por isso, sempre olhei para Marina com uma certa desconfiança, por não saber até onde vai o seu compromisso com a igreja e com essas lutas.
Nesta campanha, o meu candidato foi desde cedo Eduardo Campos. Acompanhei o seu trabalho em Pernambuco com muita alegria - a sua disposição para o trabalho e o seu comprometimento com as lutas populares era algo realmente invejável, acresce ainda o facto dele ser um Arraes, membro de uma família que admiro e com a qual mantenho uma relação histórica. Fiquei feliz quando Marina aceitou ser a vice de Eduardo, abrindo mão da sua candidatura com convites de outros partidos para concorrer - um gesto acima de qualquer suspeita. Pensei que estávamos num bom caminho quando os dois se uniram em torno de uma pauta programática, aliás, como deveria acontecer em todas as alianças.  Julguei que ali se encontrava um equilíbrio entre a ética quase puritana de Marina e o ser político que era Eduardo, uma aliança viável para o Brasil, com as limitações do nosso sistema político.  Veio a tragédia. Ainda durante a comoção, cheguei a pensar que se Marina era uma ótima vice para Eduardo, ela poderia ser também ótima para liderar o processo - embora ainda me incomodasse um pouco a sua questão religiosa.

Refletindo, percebi ainda que o partido que no último governo era totalmente identificado com as minorias, recuou nas conquistas, abrindo mão da Comissão de Direitos Humanos para o Feliciano, descartando a luta contra a homofobia nas escolas, ajudando a eleger e dando a maior dimensão - desde sempre - à bancada evangélica fundamentalista.

Também não podemos esquecer que as conquistas que as minorias obtiveram como a união entre pessoas do mesmo sexo e as cotas raciais, foram definidas pelo Supremo Tribunal. Bastante conveniente para um partido que se aliou às forças mais conservadoras do país.

Em 94, o PSDB , com Fernando Henrique Presidente, começou a investigar as instituições financeiras ligadas à Igreja Universal e poderia com isso ter atrapalhado os planos de crescimento da Igreja. No entanto, trocaram a investigação pelo apoio à candidatura Serra à prefeitura de São Paulo. Hoje a igreja tem um partido próprio que apoia e é apoiado pelo PT.

Me pergunto se Marina faria isso.... E só encontro um "não" como resposta. Posso estar idealizando, mas penso que ela é muito mais coerente do que isso, não a consigo ver de mãos dadas com o Maluf, Collor, Sarney e Renan para conseguir um apoio.  Marina chegará ao segundo turno sem ter feito um acordo com ninguém para ganhar tempo de televisão, sem baixar as saias em função da conquista do poder. Será uma vitória do povo brasileiro. Um povo que está cansado, não do PT , mas do que ele representa hoje, uma política viciada onde tudo se faz para se perpetuar, dando as cartas na política.

O Brasil quer mudar.
Hoje, Marina representa a possibilidade de um novo momento para o Brasil, um choque de moralidade e ética em Brasília e no sistema político brasileiro. E é nessa possibilidade que acho que temos que nos agarrar. Se queremos mudanças, não podemos ter medo daquilo que é novo.   Vejo com profunda tristeza como o PT joga fora a sua história, reproduzindo o medo que a direita propagava sobre o próprio partido, uma versão moderna da Regina Duarte, mantendo o cerne do discurso, o apego ao poder. Avaliam que pode valer qualquer coisa para garantir as suas eleições, e depois que são eleitos, estão tão comprometidos em alimentar as cobras que criaram que já não se responsabilizam pelo que disseram e prometeram.

Querer prensar Marina na parede para que ela dê respostas a tudo é apenas uma forma de tentar desmoralizar essa possibilidade do novo. Marina tem uma história de ética e compromisso com os Direitos Humanos e o Meio Ambiente, isso ninguém pode negar. E hoje, Marina tem viabilidade eleitoral para que tenhamos uma oportunidade de tentar mudar o rumo da velha historia política do Brasil.
Não quero mais ver o desenvolvimento do país pautado pela lógica das empreiteiras. Se queremos mudar, temos que conseguir dar saúde e educação, de verdade, para o povo brasileiro.
Se os riscos existem, eu os aceito, para tentar mudar o Brasil. Um omelete não se faz sem quebrar os ovos.

Se queremos mudar o Brasil não podemos ter medo daquilo que é novo.
Marina Presidente!

Sérgio Guerra


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